Thursday, December 16, 2004

»»»A DANÇA DE TED«««

Ted papa – notas,
Orelhas erguidas junto da telefonia;
Visitam os tímpanos, em alerta,
Os tambores de saltos nas botas,
As guitarras em histeria,
O baixo que aperta, aperta,
Os frágeis sons d’encontro ao muro;
Ted dança no escuro...
A razão esquecida,
Nos recantos do occipital;
Não cabem os dengosos monos,
Na pulsante pista cerebral.
O miúdo salta, trepida,
Os gestos partidos, sem adornos,
Pula, pula ao som do canal.
A rádio cansa, desfalece,
Ted encosta-se pelo chão;
O piano nasce, cresce e cresce;
Os sons comem o rapaz e o salão.



Viana do Castelo, Janeiro de 1998

Tuesday, December 14, 2004

:..REFLECTINDO SOBRE O INFERNO (B.Brecht)..:



Reflectindo, ouço dizer, sobre o inferno
meu irmão Shelley achou ser ele um lugar
mais ou menos semelhante a Londres.
Eu que não vivo em Londres, mas em Los Angeles
acho, reflectindo sobre o inferno,
que ele deve assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.
Também no inferno existem, não tenho dúvidas, esses jardins luxuriantes
com as flores grandes como árvores, que naturalmente fenecem
sem demora, se não são molhadas com água muito cara.
E mercados de frutas com verdadeiros montes de frutos, no entanto
sem cheiro nem sabor. E intermináveis filas de carros
mais leves que suas próprias sombras, mais rápidos
que pensamentos tolos, automóveis reluzentes, nos quais
gente rosada, vindo de lugar nenhum, vai a nenhum lugar.
E casas construídas para pessoas felizes, portanto vazias
mesmo quando habitadas.
Também as casas do inferno não são todas feias
mas a preocupação de serem lançados na rua
consome os moradores das mansões não menos que
os moradores dos barracos